3 de setembro de 2007

Pterodia e Pteranoite

Algumas coisas são tão antigas que a gente acha complicado explicar como começaram. Isso porque muito antes da gente existir, existiam os dinossauros e tem muita coisa que começou na época deles.

No fim do cretáceo havia um pterodáctilo e uma pteranodonte chamados Pterodia e Pteranoite. O que os dois mais faziam era voar no céu alto, ver lá de cima o mundo inteiro, os rios se abrindo e desgalhando que pareciam árvores, as árvores que pareciam nem bem frutas para as frutas parecerem semente. Tinha uma cachoeira tão áspera que de lá do céu alto a água parecia um tronco branco e as pedras pareciam orelhas-de-pau pretas. Pteranoite falou:

- Olha um tronco nascendo nas orelhas-de-pau.

Pterodia ficou intrigado e quis ver de perto, foi descendo do céu alto desviando de umas três nuvens mas não teve jeito, quando chegou ficou todo molhado com uns respingos da cachoeira. As gotinhas desciam mais rápido que ele e alcançaram-no no caminho. Então ele subiu de volta e falou:

- O que era preto, o que era branco, era uma cachoeira bem fresca e gelada!

Ele agitou as asas e as gotas caíram numa serra sombria, azulada de tão comprida, e onduladinha que parecia o movimento de um rio. Pteranoite apontou:

- Olha um rio bem fresco e bem gelado e congelado, parado!

Pterodia quis ver de perto, claro, voou pro meio da floresta onde os barulhos fabricavam os animais do mato. Um som folheava nos ouvidos fabricando bichos rastejantes; outro crescia por pulsos até virar um bicho das árvores. Subindo, subindo, no silêncio do céu alto disse:

- Pteranoite, tem tanto som, ruído, áudio, que tudo dança.

A pteranodonte ouviu falar em dança e deu um rodopio. Pterodia e Pteranoite se amavam muito, mas aos poucos foram voando cada vez mais longe um do outro até que cada um dava uma volta completa no céu alto antes de começar a volta completa do outro, por isso eles não se encontram mais.

Isso deu origem ao período do dia, que é luminoso, pra ver melhor, e o período da noite, que é silencioso, para ouvir melhor. E depois de tanto tempo, a gente continua fazendo a mesma coisa, e de dia a gente vive as histórias. De noite a gente conta.

7 comentários:

)borbas( disse...

Aceita um comentário de um "louco"?

)borbas( disse...

Seu texto é tão...sutil!

Salt disse...

fantástico....deveria virar um livro com ilustrações suas

Salt disse...

(tica)

Thais Bohn disse...

Oh!

Anônimo disse...

que bonitinho!

Unknown disse...

... putz..
q irado